Paracelsus
Addictionist
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Um novo estudo piloto publicado na Addiction Science & Clinical Practice apresenta resultados promissores no uso de doses subdissociativas de cetamina para auxiliar os pacientes na transição para a buprenorfina. A pesquisa, conduzida por Lucinda A. Grande e colegas, destaca o potencial da cetamina para reduzir os sintomas de abstinência que frequentemente impedem os indivíduos com transtorno por uso de opioides (OUD) de iniciar a buprenorfina, especialmente quando são dependentes de fentanil ou metadona. As descobertas do estudo oferecem uma abordagem inovadora para um dos principais desafios no tratamento de OUD, que é o gerenciamento da abstinência de opioides precipitada pela buprenorfina.
Há muito tempo, a buprenorfina é reconhecida como um medicamento que salva vidas de pessoas com OUD, reduzindo a mortalidade por overdose em mais de 50%. Entretanto, muitas pessoas que poderiam se beneficiar da buprenorfina relutam em iniciar o tratamento devido ao medo dos sintomas de abstinência. Esses sintomas podem ocorrer espontaneamente ou, de forma mais grave, quando a buprenorfina desloca opioides potentes, como o fentanil, dos receptores de opioides do cérebro. O medo e a experiência dos sintomas de abstinência - que às vezes duram até uma semana - são especialmente intensos em indivíduos com dependência de opioides sintéticos de alta potência.
A série de casos piloto conduzida durante 14 meses envolveu 37 pacientes, principalmente aqueles que estavam tentando fazer a transição do uso de fentanil ilícito ou metadona para a buprenorfina. Os pacientes receberam cetamina sublingual em doses baixas (16 mg), o que está bem abaixo do limite para induzir efeitos dissociativos ou anestésicos. Os resultados do estudo mostraram que 67% dos pacientes que experimentaram a cetamina concluíram com sucesso o início do tratamento com buprenorfina, e 92% dos que concluíram o início foram mantidos no tratamento após 30 dias.
A cetamina, conhecida principalmente como anestésico e cada vez mais usada off-label para depressão e dor resistentes ao tratamento, demonstrou capacidade de reduzir a tolerância aos opioides e aliviar os sintomas de abstinência por meio de sua ação nos receptores de glutamato do tipo NMDA. Nesse estudo, a administração de cetamina ajudou os pacientes a controlar a abstinência de opioides sem entrar em um estado dissociativo, tornando-a viável para o tratamento ambulatorial.
O estudo também oferece um vislumbre dos aspectos práticos dessa nova abordagem. Os pacientes receberam prescrição de até oito doses de cetamina, que eram trociscos ou xarope sublingual, preparados por farmácias locais. Os pacientes usaram a cetamina de forma profilática ou para tratar os sintomas de abstinência emergentes durante o início do uso da buprenorfina. Com o tempo, os pesquisadores refinaram o protocolo de tratamento, desenvolvendo um plano de quatro dias que minimizou a abstinência para o grupo final de pacientes.
Uma das principais inovações desse estudo foi atrasar o início da buprenorfina e usar cetamina para controlar os primeiros sintomas de abstinência. Ao aconselhar os pacientes a se absterem de fentanil por 48 a 72 horas enquanto usavam cetamina, os pesquisadores observaram que os pacientes podiam iniciar a buprenorfina com o mínimo de desconforto. O clonazepam, um benzodiazepínico, também foi incluído no protocolo para evitar ataques de pânico, um problema comum durante o início do uso da buprenorfina.
Os resultados desse estudo são promissores, especialmente para populações dependentes de opioides sintéticos potentes, como o fentanil. Considerando que a iniciação da buprenorfina é notoriamente difícil para esses pacientes, a iniciação assistida por cetamina pode ser uma ferramenta crucial para aumentar a adesão ao tratamento. Os pesquisadores alertam que, embora a cetamina possa reduzir a gravidade dos sintomas de abstinência, são necessários mais estudos em grande escala para confirmar esses resultados e otimizar o protocolo.
Os possíveis riscos associados à cetamina, incluindo efeitos cognitivos e uso indevido, também foram abordados no estudo. Apenas dois pacientes relataram efeitos cognitivos leves, e não houve casos de overdose ou depressão respiratória associados ao uso da cetamina, mesmo quando os pacientes voltaram a usar fentanil após tentativas incompletas de tratamento.
Os autores concluem que doses subdissociativas de cetamina podem oferecer um método mais seguro e acessível para iniciar a buprenorfina em ambientes ambulatoriais, reduzindo as barreiras a um tratamento que pode diminuir significativamente o risco de overdose. Eles pedem mais pesquisas para refinar essa abordagem e explorar sua aplicabilidade em vários ambientes clínicos.
O estudo completo pode ser acessado no site da revista em: Ketamine-assisted buprenorphine initiation: a pilot case series (clearnet).
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